terça-feira, 31 de maio de 2016

"Não ensinem as meninas a não serem estupradas. Ensinem os meninos a não estuprarem!"

Recentemente são várias as publicações de opiniões a cerca do caso de estupro coletivo cometido por mais de 30 rapazes contra uma menina de 16 anos no subúrbio do Rio de Janeiro. Essa é apenas mais uma delas.

O caso teve uma repercussão nacional: moções no Senado, na Câmara dos Deputados, ações do ministro interino da justiça, manifestações populares... Mal estamos conseguindo expressar nossa a indignação social com a exposição midiática do ocorrido e vamos sendo "atualizados"com mais notícias de casos análogos pelo país, pelo mundo.  Mas minha indignação não tem fim: em todos os casos, muitos ainda culpabilizam as vítimas! 

Tamanha barbaridade me provocou uma sensação de torpor, como se as vítimas fôssemos eu, minha irmã, minha filha ou uma das mulheres próximas a mim. Então me dei conta de que é isso mesmo: todas nós, mulheres, somos violentadas em casos de estupro; é um crime contra a condição feminina.

Acompanhando a cobertura desse crime pela internet chamou minha atenção o cartaz de uma manifestante onde estava escrito: "Não ensinem as meninas a não serem estupradas. Ensinem os meninos a não estuprarem!" 

É isso! Argumentos do tipo: "Mas em baile funk é isso o que acontece.", "Mas ela já tinha uma vida sexual ativa.", "Mas ela provocou.", "Também, ela procurou." "Deu mole, os caras caem em cima mesmo."etc etc etc não passam de discussões morais superficiais, frases replicadas sem consciência pelo senso comum. 

O problema é tão mais intrínseco que às vezes nem o percebemos: as mulheres são vistas como propriedade dos homens, como bens passíveis de serem apropriados da maneira que os prouver! Participamos de um sistema estruturado na cultura do umas nascem para servir, outros, para serem servidos e raramente nos opomos a isso. Muitas e muitas vezes replicamos esse padrão machista na educação de nossas proles. No final, todos somos responsáveis e a mudança deve, necessariamente, passar por nós.

Discutirmos a moralidade do comportamento de vítimas de estupro é querermos impor-lhes um padrão viciado de certo x errado com a convicção de que elas não têm autonomia suficiente para escolher o que desejam fazer com sua vida e com seu corpo no espaço em que estão inseridas.

A inversão da condição de vítima à condição de culpada e responsável pelo abuso sexual é tão perverso que impede a reflexão e culpabilização da conduta do agressor: ele será sempre inocentado. É como se o "comportamento certo" livrasse a mulher da violência e o "comportamento errado" justificasse a prática violenta.  

É preciso ter em mente que jamais podemos considerar que uma vítima de estupro tem culpa pelo crime! Em hipótese alguma, seja qual for sua conduta.

Meninas têm o direito de irem a bailes funk, de usar saia curta com top, de andarem sem calcinha na rua, de serem sensuais, de usarem maquiagem excessiva, de transarem apenas se tiverem vontade... enfim, de fazerem o que bem entenderem. E os meninos têm que aceitar isso! Precisam ser educados para respeitarem esse direito!

Meninos precisam aprender que meninas não estão no mundo para servi-los e, portanto, que eles não podem vê-las como um bem do qual possam se apropriar, seja com ou sem o seu consentimento. Meninos e meninas precisam ser educados para compartilhar a vida, com direitos e obrigações equitativas, respeitando a individualidade de cada ser humano.

Então, eduquemos nossos meninos a não estuprarem e nossas meninas a serem livres!!!