segunda-feira, 28 de outubro de 2019

A missão de anunciar a paz


Sacudir a poeira das sandálias do lugar que não recebeu a mensagem de paz, como nos ensina Jesus nos evangelhos, não é fácil. Acredito que seja próprio do ego humano o desejo de ver a sua mensagem recebida e, mais ainda, aceita. Esse “reconhecimento” de que temos razão é muito prazeroso.

Entretanto, muitas vezes não há aceitação de nossa mensagem, seja porque não é realmente de paz, seja porque não interessa a quem é dirigida.

O ensinamento de Jesus (de sacudir a poeira) não se refere à mensagem propriamente dita, mas ao comportamento de quem anuncia e é repelido: deixar a repulsa para trás e seguir em frente.

Jesus não mandou que os discípulos insistissem, não os manda permanecer no local onde foram repelidos até que sejam aclamados como certos e reconhecidos como mensageiros da paz. O comportamento ordenado é que fossem pacificadores, não insistentes. Isso é muito significativo: Jesus queria preservar a saúde mental dos anunciantes.

A recepção da mensagem depende de quem a escuta e não de quem a divulga. Se a divulgação for pacífica e a recepção não, @ anunciante não tem responsabilidade sobre essa negativa. A ela/ele só resta seguir anunciando. Se a semente cair em terreno fértil, prosperará, mas essa responsabilidade não é de quem semeia. Para cristãs/os essa é função do Espírito Santo de Deus. À/o anunciante, basta anunciar a paz e a justiça! O convencimento dos receptores cabe ao Espírito, pois é Ele quem convence da verdade, da justiça e do juízo, como em João 16:7-8.



E quanto ao seguir em frente e continuar anunciando a justiça, não se deve levar consigo a repulsa recebida, porque ela vira carga pesada e transforma-se em dor, sofrimento, tristeza, choro, desesperança, fofoca... são sentimentos que atrapalharão no processo de semeadura da paz, na busca por pacificação e justiça.

A expressão “sacudir a poeira” significa deixar para trás, deixar a falta de paz onde ela estiver. @ anunciante não tem responsabilidade com isso. Não deve ser juiz/a para julgar quem agiu certo ou errado. O fato é como é. A poeira deixada para trás dará testemunho dos atos de repulsa a quem os praticou, se assim for. E, o fato de não sermos nós as/os julgadores/as nos leva a aceitar que Deus sabe de todas as coisas. Foi Ele quem criou os seres humanos e conhece o que há no mais íntimo de cada ser.

O testemunho contra o ato de repulsa também não é responsabilidade d@ anunciante. Se quem não foi recebido em nome da paz não deixar para trás a poeira, prejudicará sua missão que não é outra, senão anunciar. Tão somente anunciar. É preciso esvaziar-se do ego que anseia por aceitação e se irrita com a falta de plateia, de aplauso e de atenção. Isso é desvio da função.

Querer aceitação provoca dor e sofrimento, pois a diversidade de personalidades humanas é grande e cada ponto de vista é a vista a partir de um ponto. O que precisamos ter em comum é a busca pela verdade, que deve ser entendida pelo conjunto de fatores que produzem vida em abundância para todos, como em João 10:10. A boa verdade é aquela a partir da qual todos se saciam juntos e não quando uns saciam-se às custas de outros.

Anunciar a paz e a justiça é a missão. A conversão é consequência e não deve ser perseguida pelo/a anunciante nem vista como mérito dele/a. O mérito é do Espírito, quem encontrou uma brecha e conseguiu frutificar naquela vida.

O lema do anunciante deve ser: “manter o foco no anúncio, não na recepção”. Cada pessoa recebe a mensagem a partir do lugar onde ela está inserida e isso não depende do anunciante. Esvaziar o ego da necessidade de aplauso e aceitação deve ser uma meta. Cada pessoa tem uma experiência diferente de vida e com a vida; não dá para controlar todas as respostas que surgirão!

Outra coisa importante para refletir: aceitar que todos têm direito a uma opinião não significa que ela tenha que ser importante ou até relevante para mim. Não é porque alguém dá sua opinião que eu devo recebê-la como verdadeira e aceitá-la como verdade.

Tenho tentado praticar os seguintes exercícios: ser crítica das opiniões recebidas; não acreditar que preciso ouvir todas; não tentar considerar todas. Opiniões importantes são aquelas declaradas com amor, por pessoas a quem admiro. Também não é porque não admiro que a opinião não seja válida, mas sou livre e devo usar minha inteligência para dispor-me a ouvir e levar em consideração apenas o que eu reconhecer como importante. Com isso, busco sabedoria e preservação da minha saúde mental.

O que outra pessoa me diz tem muito mais a ver com o que ela pensa do que a realidade sobre mim. Se o Espírito Santo não testificar em mim o que outra pessoa me falar, ou seja, se não me provocar à busca pela sabedoria, mas me levar à ira, não é relevante para a minha edificação enquanto anunciante da mensagem de paz. Por isso, sou livre para descartar essa opinião. Aliás, eu DEVO descartá-la
.
É essencial perdoar as pessoas que não conseguem guardar para si suas opiniões maldosas, que decidem exprimi-las como forma de opressão e subjugo de outra pessoa porque isso não edifica o coração e a mente de quem as retém. Pelo contrário, coloca-a na posição de oprimida que, em última instância, deseja ser um opressor. O perdão liberta desse ciclo vicioso.

Então, decidi que, se eu quiser ser uma pacificadora sábia, preciso: 
- 1º - manter o foco na mensagem de paz e justiça e não na recepção dela; 
- 2º - esvaziar a expectativa do ego em receber aplauso e aceitação porque a conversão é função do Espírito Santo; 
- 3º. – perdoar pessoas que são agressivas e compreender que falam muito mais sobre elas mesmas do que de mim, a quem a agressividade é dirigida; 
- 4º. – deixar que a poeira dê testemunho da agressividade e da repulsa. 
- 5º. - não devo carregar a poeira para não atrapalhar a missão que eu aceitei de Jesus, que é anunciar a paz e a justiça. Sempre!


Daniela Leão Siqueira

P.S. Este texto, escrito com o coração pulsante, é uma profusão de indignação e desejo de encontrar o equilíbrio para o diálogo, em tempos tão difíceis de convivência na sociedade brasileira.



Mateus 10: 12-14
“E, quando entrares na casa, saudai-a. se a casa for digna, que a vossa paz repouse sobre ela; se, todavia, não for digna, que a paz retorne para vós. Porém, se alguém não vos receber, nem der ouvidos às vossas palavras, assim que sairdes daquela casa ou cidade, sacudi a poeira de vossos pés.”

Lucas 9: 5
“Porém, se não vos receberem, sacudi o pó de vossas sandálias assim que sairdes daquela cidade, como testemunho contra aquela gente.”

Marcos 6: 11
“Contudo, se alguma aldeia não vos receber nem vos quiser ouvir, ao partirdes desse lugar, sacudi a poeira de debaixo de vossos pés como testemunho contra eles.”



Provérbios 9: 7-12
A sabedoria vive para sempre. “O que censura o zombador traz afronta sobre si; quem repreende o ímpio mancha o próprio nome. Portanto, não admoestes o escarnecedor, para que não te aborreça; repreende o sábio, e ele te amará! Orienta a pessoa que tem sabedoria e ela será ainda mais sábia; ensina o homem justo, e ele aumentará em muito o seu saber. O temor do Senhor é a chave da sabedoria e conhecer a Divindade é alcançar o pleno sentido do conhecimento! Porquanto por meu intermédio os teus dias são multiplicados, e o tempo da tua vida se prolongará. Se fores sábio, o benefício será todo teu; contudo, se fores zombador sofrerás as consequências da tua própria escolha.”

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Menina linda... conhece-te primeiro

Ultimamente tenho percebido algumas amigas seriamente preocupadas com a saúde mental de suas filhas. Os relatos são em torno da questão do início de suas vidas sentimentais/sexuais. Tenho escutado muito o seguinte desabafo: “Minha filha anda triste, se achando feia porque não tem um namorado”, sempre seguido de sofrimento. Claro! Qual mãe amorosa quer ver sua\seu filha\o triste?

Continuando a conversa, as soluções que se apresentam são mais ou menos assim: leva numa psicóloga, faz uma viajem, mostra nossas fotos com a idade dela, ela vai ver o que é adolescente feia... Tudo para tentar convencer a menina de 15 anos de que ela é LINDA!

Mas hoje, exatamente hoje, quando acordei de uma noite de amor incrível com o meu marido, me dei conta de uma coisa: não precisamos convencê-las de que são lindas, precisamos ensiná-las a se amarem! Escrevo este texto como um presente meu para elas. Acho que é a melhor coisa que eu poderia lhes ensinar: instigá-las a se conhecerem e se amarem.

Digo isso porque eu conheço essa realidade. Também me achava ridícula quando tinha 15 anos. Aliás, desde os 11 anos comecei a acreditar nisso. Meu primeiro beijo na boca foi com 20 anos e quando comecei a namorar eu tinha 22. Menina linda que me lê, acredite, eu sei do que estou falando.

Em primeiro lugar, você precisa entender o que significa um namoro. Namoro é uma relação. É quando você se coloca em relação com outra pessoa para conhecê-la. E esse conhecimento tem outra finalidade que vai para além da amizade.

Vamos refletir sobre relação. O dicionário vai explicar que relação é uma consideração que resulta da comparação de dois ou mais objetos; é a ação de descrever; é conexão; é um ato de narrar; é correspondência; é condição de ligação. Na música, relação é uma pausa entre dois sons.

Então, namorar é estar em relação com outra pessoa com o objetivo de comparar você com ela/ele; namorar é descrever você e ele/ela; namorar é conectar você com ele/ela; namorar é narrar a sua história e a dele/dela; é encontrar correspondência entre você e ele/ela para criar uma condição de ligação entre você e ele/ela.

Mas, também é mais que isso. Namoro tem a ver com seduzir e deixar-se seduzir. Trata-se de conhecer a sexualidade da outra pessoa para sentir se ela corresponde com a sua. Sim, é provável que sua mãe fique brava comigo por estar falando essas coisas pra você, mas é verdade: namorar é testar se a outra pessoa te dá tesão.

Agora vamos falar sobre o motivo pelo qual você quer namorar. Já parou para pensar nisso? Ninguém conta pra gente, mas na infância os hormônios sexuais são inibidos e sua produção é iniciada durante a puberdade. Eles é que são responsáveis pelo aparecimento das características sexuais do nosso corpo. Então, entenda que o seu desejo ardente para encontrar um namorado tem a ver com o despertar de um longo sono infantil dos seus hormônios sexuais. Simples assim!

Agora eu vou te contar (porque você é jovem e talvez ainda não tenha percebido) um pouco sobre a sociedade na qual estamos inseridas e como ela lida com a questão da sexualidade humana. De novo eu peço: acredite, eu sei do que estou falando. Vamos lá:

- vivemos sob uma cultura que nos ensina (das mais diversas formas, não somente nos discursos, mas, principalmente, pela convivência) que conhecer o próprio corpo é errado. As pessoas que se enxergam mais religiosas vão dizer até que é pecado! Mas, eu te garanto: NÃO É! NEM ERRADO, NEM PECADO!

- vivemos sob uma cultura que, mesmo sendo errado ou pecado, admite que os meninos conheçam o seu órgão sexual e a eles é permitido que o estimule, praticando o autoerotismo para se deleitarem (também é o dicionário que assim define). Em outras palavras: nossa cultura permite (e até incentiva) os meninos a se masturbarem. Esquece a sua mãe agora. Foca aqui!

- vivemos sob uma cultura que não permite nem incentiva, sequer admite que as meninas conheçam suas vulvas. A elas é proibido praticarem autoerotismo. A nós não é permitido o deleite. Ou seja, não podemos nos masturbar. Te pergunto: é justo??

- perceba: vivemos numa cultura onde a mulher, para fazer qualquer coisa, depende de um homem para concluir essa ação. Duvida? É só você começar a prestar atenção ao tratamento que se dá e aos comentários que se faz sobre uma mulher solteira, divorciada ou que não tem um homem para chamar de seu. Ela não tem o mesmo “valor” do que as casadas. Por quê? Porque não têm um marido para referendar suas vidas.

Bom, até aqui você já entendeu que nossa sociedade é machista, certo? Vamos voltar ao despertar dos seus hormônios sexuais. Sobre eles você pode aprender com mais propriedade na escola ou com pesquisas. O que importa aqui é perceber que estão aí e são o motivo pelo qual você deseja, ardentemente, dar vazão a sua sexualidade.

Sim, porque com apenas 15 anos, a necessidade que temos não é de ter um relacionamento com outra pessoa com o objetivo de nos comparar com ela/ele para além da amizade, nem de nos descrever ou narrar a nossa história. Nós não nos conhecemos o suficiente nem temos maturidade para isso. Estamos ainda no início dessa construção. Nessa idade, com os hormônios sexuais surgindo, nossa necessidade é de sentir prazer,  de dar vazão à pulsão sexual que aparece.

Então me responde: por que você acha que precisa de outra pessoa para fazer isso? E principalmente se você for hétero: por que você acha que precisa de um menino para lidar com a questão da SUA sexualidade? Deixa a tia te dar uma dica: não precisa!

Um dia sua mãe vai me agradecer por eu ter tido coragem de dizer isso para você: conhece a ti mesma! Se o verbo masturbar é pesado pra você, não se masturbe, mas estimule seus órgãos sexuais, pratique o autoerotismo. Conheça a sua vulva. 

Saiba onde fica a vagina e perceba a diferença entre ela e a uretra. Encontre o ponto G: ele existe! Está na entrada do canal vaginal, a 5cM da entrada, na parede superior. E mais: descubra o seu clitóris, os lábios menores. Sinta as terminações nervosas que estão por toda parte na sua genitália. Encontre o seu hímen. Ele é seu! Faça dele o que quiser! Informação adicional: você sabia que o clitóris é um órgão sexual feminino cuja única função é dar prazer para a mulher? Eu descobri isso com 40 anos! Olha quanto tempo eu perdi!!!

Por fim, minha linda menina, entenda que não há nada de errado com você. Não é porque é feia que não encontra um namorado. É porque namoro dá trabalho. Relacionamento é construção e é preciso ter tempo e disposição para essa empreitada. Aos 15 anos não temos nada disso.

Lembra que conversamos sobre a condição dos meninos? Então.. até antes dessa idade eles  já foram estimulados a se conhecer. Já sabem o que fazer para dar vazão ao desejo que surge de repente. Muitos se masturbam há muito tempo e aguns já até iniciaram sua vida sexual. Enfim, eles não precisam se relacionar - namorar -  para sentirem prazer.

Talvez o que você precisa no momento é conhecer-se. Conhecer seu próprio corpo para sentir a segurança de que a construção da sua vida depende, em grande parte,  de você e do seu corpo. De como você cuida dele, de como você enxerga ele, de como você lida com ele no lugar onde você está inserida.

Meu conselho é para que você se namore primeiro. Entenda que essa relação de você consigo mesma é uma pausa entre dois sons: sua infância e sua adolescência. Aproveite essa música! Cante, dance, viva.

Daí, quando você puder se descrever e narrar a sua própria história você terá maturidade para entrar num relacionamento de namoro para testar se a sexualidade da outra pessoa se complementa com a sua. Se ele/ela te dá tesão. 

Até lá, entenda e viva esse tempo de propulsão hormonal e aproveite a vida. Mais que isso: deleite-se!

Ah, como eu queria ter vivido isso quando eu tinha 15 anos...

Com muito amor, carinho e sororidade,
Tia Dani

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Com a palavra e a liberdade poética, a viúva persistente que convenceu o injusto juiz...


(Lucas 18.1-8)

Sei que Jesus conta a minha história para ajudar as pessoas a perceberam o valor da orAÇÃO, mas também para mostrar que muito diferente daquele injusto juiz, é Deus diante das nossas causas. No entanto, gostaria de me arriscar a contar, por mim mesma, como tudo aconteceu.

Me lembro daquele dia, mal o primeiro raio de sol despontou, eu me despertei. Meus olhos se abriram e as dores no corpo fizeram questão de ratificar que eu viveria mais um dia. Fechei meus olhos, orei, agradeci, pedi forças. Antes de me levantar, rememorei a agenda e constatei que não havia nada de diferente. Era mais um dia para fazer tudo sempre igual.

Entre as tarefas, aquela que mais me cansava ainda estava presente: ir ter com o injusto juiz. Resolvi ir em um horário diferente do que eu já me acostumara, por isso não fui colher figos aquela manhã. Depois de me certificar que ainda havia um pouco de farinha e óleo em casa, resolvi sair sem comer nada. Afinal, ir ter com esse juiz era algo que sempre me embrulhava o estômago.

Pelo caminho, os pés e pernas não se combinavam com as fortes batidas do meu coração e a secura da minha garganta. Ora caminhava rápido, ora bem devagar e em muitos momentos eu pensava se era melhor tomar outro caminho para chegar até lá.

Minha memória já estava fatigada por saber não de cor(coração), mas de pé, o caminho. Meus ouvidos já tinham armazenado as duras palavras daquele homem. Meus olhos conheciam bem seu olhar de desprezo, mas meu coração, esse rebelde sonhador e lutador, não dava a mínima para tudo isso. Ele batia rápido porque sabia que precisava chegar o quanto antes, porque sabia que precisava contaminar a minha razão e encharcar de esperança e força a minha garganta.

Naquele dia, eu o peguei de surpresa por conta do horário, me diverti com isso. O que não era inédito era a minha frase: “julgue a minha causa contra o meu adversário”. No começo do processo eu falava baixo, com educação, leveza e entendimento de que recorria a quem poderia, de fato, me ajudar.

Não obtive ajuda. Pelo contrário, já não tenho em mente a quantidade de vezes que me aproximei para lhe pedir que, simplesmente, fizesse seu trabalho. A falta de empatia daquele homem, seu desrespeito pela lei e pelo princípio divino de proteção à vida, me fizeram aumentar o tom de voz e a voz no tom. Já não falava só para ele, eu precisava gritar para que outras pessoas escutassem o quão surdo era aquele juiz.

Se no começo dos meus protestos eu me encontrava sozinha, depois de tanto gritar já podia ver algumas mulheres saindo às ruas e se aproximando. Outras meio de longe me transmitiam apoio no olhar, mas outras sequer me ouviam. Pude ver homens que identificaram o valor da minha causa e torciam por mim, mas também vi aqueles que faziam questão de dizer para suas mulheres que nunca, jamais, repetissem o meu comportamento.

“eu gritei, eu griTEI, EU GRITEI”, de forma que pude escutar os pensamentos daquele juiz: “como esta viúva fica me incomodando, vou julgar a sua causa para não acontecer que, por fim, venha me bater”. Sei que quem registrou essa história, traduziu o pensamento do juiz de forma mais branda. Ao invés de escrever bater, preferiu usar verbos como molestar, importunar, amolar etc. Coisas que dizem que as mulheres fazem quando se levantam para lutar contra as injustiças. Mas o que realmente e originalmente o juiz falou foi isso: “BATER”.

Ele ficou com medo! Sua iniquidade e viver corrupto o fizeram pensar que eu faria opção de usar as mesmas estratégias que ele. Não! Jamais! Minha voz era muito mais poderosa do que qualquer ato de violência. E naquele momento eu a usava para denunciar os meus dois adversários: o da causa e o do julgamento. Fui embora com a questão resolvida.

De fato, há muito sobre or-Ação nessa história. Minha trôpega caminhada foi se fortalecendo através das minhas preces ao Deus da vida. Ele me fez recordar as mulheres do meu povo que, antes de mim, não se conformaram e lutaram para garantir seus direitos. Meu tom de voz foi assumindo o tom ideal por saber que o Deus que julga com justiça e retidão garantiu a mim, a outras viúvas, órfãs e órfãos, o direito à vida digna e justa.

Quem registrou a minha história fez questão de explicitar a intencionalidade de Jesus, limitando-a ao fato de orar sempre e nunca esmorecer. Nada limita as palavras do Mestre! Por isso me pergunto: Por que Jesus escolheu contar a minha história, a de uma mulher viúva que enfrentou um homem poderoso e fez com que ele mudasse a postura, justamente para falar sobre oração? Jesus tem razão, minha história fala mesmo sobre oração, das que se fazem de olhos fechados e das que se fazem para que os os olhos se abram.

Andreia Fernandes - pastora metodista, doutora em educação

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Conscientiza-te, Liberta-te e Empodera-te!



Ultimamente tenho analisado como algumas fichas minhas foram caindo aos poucos, em períodos diferentes da vida e hoje eu percebo o quão estressante é ser mulher em nossa sociedade. Precisamos dar conta de muitas tarefas:

- estudar todos os assuntos para ter todas as respostas;

- estar com o corpo em forma e sempre com uma aparência saudável e padronizadamente bonita (cabelo hidratado, unhas feitas, maquiagem em tons naturais, roupas de acordo com a moda e a estação...);

- exercer a maternidade e cuidar de toda a família (pais, irmãos, avós, nossos e de nossos maridos) sob pena de sermos consideradas insensíveis ou até desumanas;

- manter (ou tutelar a empregada para que mantenha) a casa arrumada, limpa e cheirosa;

- esperar o marido com um jantar gourmetizado (e que seja saudável, para ele não perder a forma)
....
(Cada uma que me lê será capaz de adicionar outras tantas tarefas que nos são cobradas, pois a quantidade de atividades é igual ao cálculo do infinito elevado à enésima potência.)

E, para dar conta de tudo, somos levadas a acreditar que, como mulheres, temos condições de ir ao infinito e além. Mas não temos...

Historicamente, a sociedade nos impôs um trilhão de atribuições e fomos estruturalmente educadas para acreditar que realmente temos obrigação de cumprir tudo isso. Com ainda mais crueldade, somos ensinadas de que não fazê-lo é sinal de incapacidade. Se demonstramos qualquer sinal de que estamos “cansadas dessa vida”, ainda somos estigmatizadas como loucas, histéricas, preguiçosas... (aqui a lista também pode ser infinita, a depender de quem me lê).  

É tão cruel esse sistema que sequer é cogitada uma possível divisão de tarefas para aliviar nossos corpos, os quais não dão conta de responder a todos esses estímulos e cobranças. 

Hoje peguei-me pensando no quanto tenho encontrado mulheres (muitas mesmo!) que têm apresentado estafa física e emocional. E, exatamente porque já passei por isso e continuo no processo de busca da liberdade, eu queria te falar uma coisa: 

CONSCIENTIZA-TE! VOCÊ NÃO PRECISA DAR CONTA DE TUDO O QUE TE DISSERAM!
Entenda, sinta e viva essa verdade! Busque ser quem você nasceu pra ser.

LIBERTA-TE! Só quando você conseguir se conhecer de verdade (o que te dá prazer e o que te tira o prazer) e aceitar que a sua personalidade é única e diferente de todos/as do seu convívio poderá perceber quem você É. Liberte-se das amarras que te prendem para que você possa ser a pessoa que nasceu para ser, não a que tentaram te moldar para ser. Essas amarras tiram o seu brilho de viver. SEJA LIVRE E BRILHE!


EMPODERA-TE! VOCÊ É CAPAZ! Não de fazer tudo, mas de fazer muito. Então, a partir desse ponto, exerça responsavelmente as atividades advindas da sua convivência social. Nunca mais tente cuidar de tudo sozinha. E exercite, ao máximo, evitar agredir sua fraqueza. Aceite qual é o seu limite. Mais que isso: aceite que seu corpo, sua mente e a sua vida têm limites.

Sua inteligência, seu conhecimento, seu jeito único de ser estão muito além do que as instituições podem pretender impor a você ou até mesmo cobrar de você.

E lembre-se, soror, você não está sozinha. No caminho, vai encontrando pessoas que querem seguir com você. Uma parte, o caminho todo, só até a esquina... não importa! O que vale é o quanto conseguimos aprender na caminhada.

Acredite! Não tenha medo! Deus, o Universo, a Natureza, (quem quer que seja) há de prover os encontros e as respostas, porque Ele/Ela quer um mundo diferente desse que temos aqui.

Com amor e sororidade,
Dani