quinta-feira, 6 de julho de 2023

Sobre tartarugas e seus cascos

 

Outro dia, quando fui interpelada por uma amiga sobre como eu me sentia, respondi quase sem pensar: de vez em quando, me vejo como uma tartaruga.

E foi sem pensar mesmo, porque acredito que, em consciência plena, não me compararia com tal animalzinho. Confesso: tenho um pouco de asco desta bichinha. Seja ela pequena, média, grande ou gigante.

Não sei exatamente o motivo. Se é porque ela fica se arrastando, lentamente, devagar demais; se é porque é praticamente só um casco duro; se é porque é como é. Só sei de uma coisa: não gosto de ver tartarugas perto de mim. Fico agoniada.

Mas o caso é que me senti como uma. E me expressei como se fosse uma: estou bem. Às vezes, em marcha bem lenta, mas bem.

Fiquei tão incomodada com a associação... acredito que seja porque tenho me sentido meio Marvin (da música dos Titãs), com o peso do mundo em minhas costas. Não necessariamente o peso do mundo, mas com certeza o peso da casa, da família, do trabalho, da saúde, da vida.

Essa coisa de pensar que está saudável e descobrir que não está é algo que traz muito, mas muito desconforto. E a espera pelos resultados dos exames? É inflamatória! Verdade: minhas articulações estão inflamadas. Vou ter que fazer fisioterapia para aliviar as dores.

E o atendimento médico? É incrível como ficamos vulneráveis quando estamos diante de um profissional que tem um poder gigantesco na mão: determinar o nosso tratamento. Meu Deus! Que peso isso! E se essa pessoa que está me tratando como um objeto errar na indicação? Para isso tem a equipe de auditoria, respondeu com muito carinho a enfermeira. Aliviou um pouco o fardo.

Voltando à conversa pelo WhatsApp, após minha frase analógica com a tartaruga, me perguntei em seguida: será que o casco é tão pesado mesmo ou ela tem um ritmo similar ao do bicho preguiça?

Eu não consegui encontrar o peso exato do casco do bichinho, sem contar as, digamos assim, partes moles. Mas, o que encontrei me deixou atônita. Você sabia que uma tartaruga pode suportar até 200 vezes o seu peso? Jesus, é muita resistência.

Então, pelo que me parece, a tartaruga não anda devagar porque seu casco é pesado, mas deve ser esse o seu ritmo normal: lento, bem lento.

Sempre tive pena da tartaruga. Sempre olhei e pensei: coitada, carrega um peso maior do que suporta. Só que não. Ela ainda suportaria 200 vezes mais do que carrega. Isso é extraordinário.

Não que eu passei a acha-la mais atraente. Nada disso! Mas passei a enxerga-la diferente. Trata-se de um animal extraordinariamente forte. Sem falar na sua independência: consegue se proteger sozinha de predadores. É só puxar as patas e a cabeça para dentro da concha.

Então, acho que minha comparação pessoal com uma tartaruga foi positiva: estou em ritmo lento mesmo, fazer o quê?  Mas não precisa ser por causa de um fardo pesado. Pode ser só porque meu corpo precisou adotar outra marcha. Acho que para dar conta de elaborar os acontecimentos que estou chamando de peso. Porque peso, peso, propriamente dito, talvez eu consiga carregar até mais.

Como me respondeu minha amiga com uma acolhida deliciosa: se só conseguimos avançar lentamente, então assim será.

E vamos que vamos, que a jornada do tratamento ainda nem começou.

Um comentário:

  1. Amo nossa jornada juntos, devagar como as tartarugas ou rápido como você. Te amo.

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