sexta-feira, 23 de junho de 2023

Partilha do fichamento de um livro importante: A Síndrome da Boazinha

A ficha caiu mesmo quando, ao reclamar pra minha irmã que uma pessoa tinha sido muito grosseira comigo ela me respondeu, totalmente sem paciência: “Você é exibida! Acha que todo mundo tem que gostar de você. ”

Uma vez, não me lembro quando, nós (minha irmã e eu) combinamos: vamos falar uma para a outra o que ninguém mais tiver coragem de falar. Por causa desse combinado, agradeci a sinceridade. Jesus amado, ninguém até hoje teve coragem de me dizer que sou exibida? O que isso significa?

Confesso: pesquiso coisas esquisitas no Google. Então, entre uma pesquisa e outra, recebi a indicação de um livro: A Síndrome da Boazinha. Comprei na hora. Viva a Estante Virtual.

Quando chegou, fui logo fazer o questionário: deu! Uma pontuação alta. Segundo minha pontuação, tenho um comportamento tóxico comigo mesma. Sou quase nociva pra mim mesma.

De acordo com os questionários, meu problema está no pensamento: são distorcidos. Cultivei durante 45 anos um sistema de crenças que contribuem para sentimentos negativos e baixa autoestima. Meu Deus!!! E eu que sempre me achei boa...

Lembro de uma vez escrever num papel que era altruísta. Escrevi como algo positivo, quase com vergonha de ser tão boa. Acabo de descobrir que altruísmo é péssimo para comigo mesma, porque cria deveres e obrigações que são impossíveis de serem alcançados.

Se você quiser saber mais sobre a nocividade do altruísmo e da compulsão por agradar as outras pessoas, recomendo a leitura do livro. Mas, só se você estiver disposta a lidar com a necessidade de mudança que essa novidade te trará.

Tá certo. Há algum tempo eu tenho me incomodado com essa questão da desaprovação. Sempre que acontece de eu agir pensando que estou fazendo a coisa certa e recebo confronto e desaprovação fico devastada. Da última vez, fiquei doente por quase uma semana.

Enfim... percebi que era necessário mudar. Não quero mais ficar triste porque alguém não gostou do que eu fiz, do jeito que eu olhei ou falei. Dani-se! Pelo amor de Deus! Tenho 45 anos. Não sou mais uma adolescente...

Segundo a pesquisadora do livro, na infância e adolescência é que adotamos esse comportamento de agradar a todo custo. É mais ou menos essa receita: os pais ficaram bravos porque fizemos alguma coisa que não aprovaram? Então não fazemos mais para não desagradar. Sofremos bullying na escola? Então tentamos agradar para pararem com a importunação. E assim por diante.

Mas, como estou reafirmando algumas vezes já, tenho 45 anos. Não posso continuar agindo e reagindo como uma criança com medo de desagradar aos pais, muito menos como uma adolescente que não quer ser motivo de chacota. Preciso agir como uma pessoa adulta que sou! Porque sou! Não sou?

Não.... a verdade é que não.... quando se trata de reação diante de uma atitude para com alguém que amo, uma desaprovação é muito, muito triste, como para uma criança. Sou exibida... quero ser a melhor em tudo: todas as pessoas que me rodeiam têm que me amar e gostar do que faço, do que falo, de como eu olho...

Tá bom. Ok. Tudo certo. Entendi. Bora mudar isso.

Mas geeeeeeeeente. Como é difícil, viu?

Bom, agora, eu quero falar um pouco dos exercícios que a escritora propõe que façamos. Vou colocar alguns aqui, aleatoriamente, porque estou revendo as anotações que fiz.

- É preciso substituir pensamentos agradadores de “sempre” e “nunca” por outros como “na maioria das vezes, às vezes ou raramente.”

Exemplo:

De: As pessoas devem sempre gostar de mim pelo que faço e nunca me reprovarem.

Por: Somente é possível às vezes gostar de mim pelo que eu faço e a reprovação é uma possibilidade, ainda que na minoria das vezes.

É muito importante reconhecer que nosso pensamento está contaminado e distorcido por demandas e deveres estabelecidos erroneamente. Por isso, é necessário corrigir o pensamento para alcançar a recuperação.

- É preciso reconhecer quando estamos aplicando leituras e expectativas de situações a partir do pensamento mágico.

Exemplo:

De: Se eu for boazinha, nada de mau vai me acontecer.

(No meu caso, eu reconheci que tenho pavor do homem do saco. Desde criança sou muito impressionada com a história do homem que sequestra uma criança que não é boazinha para os pais, coloca num saco e sai viajando pelas cidades vizinhas, batendo no saco para ele “cantar” e ganhar dinheiro com o saco encantado. Isso é apavorante pra mim!)

Por: Coisas ruins acontecem com as pessoas o tempo todo. Não importa o quanto se esforce para ser boazinha, coisas ruins acontecem.

(No meu caso, tive um câncer no intestino há 8 meses. Recentemente, descobri uma metástase no pescoço. Ou seja, não importa o quanto eu tente ser boa, agradar a todas as pessoas a minha volta, resolver os problemas de quem está próxima a mim. Sou humana, logo, coisas ruins podem acontecer comigo. Uma, duas, três vezes... quantas forem possíveis durante a minha vida.)

Olha que linda essa constatação na página 64: “O raciocínio falho leva a conclusões deprimentes e indutoras de culpa. ” Não. Eu não mereço que coisas ruins me aconteçam. Elas apenas acontecem!

É muito importante modificar a premissa de que a vida é justa. Ela não é justa ou injusta. A vida é como é. Compreender e aceitar isso ajuda a corrigir o pensamento mágico que resulta em depressão. 

- É preciso aceitar que a agradabilidade não irá nos proteger ou superar tratamentos rudes.

Epa! Peraí! Eu aprendi exatamente o contrário!

Mas, segundo a escritora (e acho mesmo que faz sentido), em uma situação de conflito agressivo, ser agradável é o equivalente psicológico de estar desarmada. Pelo contrário, ser agradável além de não proteger, ainda fortalece a pessoa agressora.

É como se a agradabilidade fosse uma espécie de encorajamento, de recompensa para que a outra pessoa te maltrate, o que sustenta o ciclo de abusos.

Nesse tópico, eu anotei várias frases:

A pessoa de cuja aceitação eu mais preciso SOU EU!!!

Não há problema em não ser agradável!!!!!!!!!!!!!!!!!

Ser agradável a qualquer preço é uma ideia nociva!!

Talvez ainda precise escrever outras tantas para me convencer totalmente e conseguir mudar essa perspectiva, mas já estou gostando de poder pensar assim.

- É preciso mudar a crença derrotista da primazia das outras pessoas.

Olha que medo na página 70: “O mundo da pessoa agradadora é perigoso, cheio de pessoas poderosas que são controladoras, exigentes, rejeitadoras, exploradoras e punitivas, com posição de primazia.”

Meu Deus, me ajuda a aceitar essa realidade: as outras pessoas NÃO devem vir em primeiro lugar!!!

Uma vez o interesse próprio esclarecido, ao contrário do egoísmo, impede que outras pessoas sofram às suas custas. Para isso, é importante ser capaz de cuidar de si mesma – exercitar ouvir a voz interior da sua necessidade.

Olha as belezas dessas frases nas páginas 84 e 85:

Existe uma grande diferença entre ser egoísta e agir em interesse próprio esclarecido.

Nem sempre é melhor dar do que receber. O equilíbrio está em dar E receber.

Suas próprias necessidades, desejos e ideias são tão importantes quanto as de qualquer pessoa. Para você, podem ainda ser mais importantes.

- É preciso compreender que você é mais do que as coisas que faz.

Recuperar o controle da própria vida exige aprender a manter um bom estado de espírito. Este controle deve-se, em parte, a sua nova capacidade de escolher o que fará ou não fará.

Compreender que negar um pedido está relacionado ao estabelecimento de limites é um passo importante para se livrar de sentimentos de culpa e depressão.

E essas constatações? 

Você é mais do que aquilo que pode realizar. – Página 97

O medo de dizer não é ressentimento reprimido. – Página 102

Dizer sim quando quer dizer não é que deve te fazer sentir-se culpada. – Página 102

Com certeza, você é mais rígida com você mesma do que com qualquer outra pessoa. – Página 103

Você deve tratar a si própria da mesma maneira que trata as outras pessoas. – Página 103.

 

Para se livrar da compulsão por agradar é preciso que seja feito um treinamento. No caso de pensamentos distorcidos, é necessário substituir uma ideia falha por um pensamento novo e mais preciso. Precisa sair do reflexo automático de dizer “sim” em direção a um “não” assertivo. Ainda, precisa abandonar uma reação de fuga de conflitos por uma experiência positiva de solução de problemas.

A melhor alternativa a ser uma agradadora compulsiva é ser uma pessoa que faz a escolha intencional de se importar. Uma escolha de quando, como e para quem você doa seu tempo e recursos.

Assim, você terá certeza de que reserva quantidades apropriadas de tempo e energia para suas próprias necessidades que passarão a ocupar um lugar mais elevado em sua escala de prioridades.

Ao final do livro, a doutora Braiker propõe um plano de ação a ser colocado em prática em 21 passos (ou dias) para exercitar a libertação da compulsão. Preciso confessar: não é fácil.

O automático das práticas consolidadas por anos e dadas como certas é muito mais forte do que pensamos. Tenho revisitado minhas anotações, repetido as propostas de novas diretrizes e tentado muito, mas muito mesmo, controlar a ansiedade.

São dias de altos, outros de baixos, mas não desisto. Sei que preciso mudar. Tanto minha mente quanto meu corpo pedem, clamam por isso: mudança! Preciso muito de novos ares, novas propostas, novas prioridades.

Já descobri que novos ares não sopram em outros lugares, mas exatamente onde eu me encontrar. Tudo depende da forma como estou encarando a situação.

E, pra você que também deseja novos ares, deixo aqui meu testemunho: quando escolhemos agradar a nós mesmas, respiramos mais leve. É realmente um novo ar que entra e circula no corpo. Revigora o desejo de estar viva!



[1] Braiker, Harriet B. – A síndrome da boazinha – Rio de Janeiro – Best Seller, 2012 – 3ª. edição.


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