Devia
ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Epitáfio - Titãs
Quando foi que eu me esqueci desse ensinamento?
Diante de um diagnóstico de linfonodos tumorais (ou qualquer
que seja o diagnóstico de câncer), tudo passa a parecer grande demais. Acredito
que parte desse transtorno (no sentido de modificação da ordem original) acontece
porque há um estigma social sobre o câncer: é anúncio do fim, não tem como escapar.
Sei lá por qual motivo entrei nessa “pira” de que agora
tudo ficou grande demais pra mim. É como se os menores problemas e incômodos
tivessem um tamanho muito maior do que realmente têm.
De repente a louça suja, as coisas fora de ordem dentro da
casa, o banheiro sem limpeza, a dificuldade de entrosamento na família enfim, as questões do dia a dia em geral vão tomando uma importância tão
gigantesca que não conseguimos suportar o incômodo.
E isso pode tomar uma proporção tão grande que podemos
acreditar que nossas vida e saúde dependem da eliminação desses transtornos. E qual
é a primeira resposta que se apresenta como melhor forma de acabar com os
confrontos advindos das relações humanas? Eliminar as pessoas humanas com a
qual nos relacionamos. Olha que impactante essa lógica! Até dói no coração, né?
Diante desse testemunho de vida com o qual fui confrontada –
devia ter me importado menos com
problemas pequenos – percebi que é disso que esses incômodos se tratam: problemas
pequenos. Diante do amor que as relações me promovem e sustentam, esses conflitos
resultantes da convivência são pequenos. Aliás, muito pequenos.
A vida é efêmera, passageira, transitória. Tem curta
duração. Meu pai gosta de usar o termo orgânico, próprio do que é vivo, que muda todo o tempo.
E é mesmo. Num dia somos crianças, no outro, nos percebemos envelhecidas. Num dia
temos vidas infantis para cuidar e no outro, somos nós a sermos cuidadas pelas
crianças que ficaram adultas. Num dia estamos saudáveis, voando como um
passarinho, no outro, precisamos parar o voo para tratar da saúde. É a vida,
mas é bonita e é bonita. Não temos que ter a vergonha de sermos felizes nesse
interregno.
Creio piamente que o que estou enxergando agora como
gigantesco, maior do que eu, em pouco tempo estarei relatando como coisa pequena. Não somente porque eu vou
crescer (no sentido de amadurecer), mas porque vou enxergar os pequenos conflitos
como o que realmente são: pequenos diante da imensidão de vida e alegria que há nas
relações que são vividas e orientadas por amor.
Então, quero deixar aqui, por escrito, um projeto que pretendo buscar concretizar: 1 - não quero me arrepender por ter me importado muito com as coisas pequenas; 2 - quero aceitar as pessoas como elas são porque cada uma sabe a alegria e a dor que traz no coração.
Não quero deixar pra Dani do futuro um legado de arrependimento por não ter acolhido ou amado alguém quando era possível. Quero que a Dani do futuro tenha orgulho de mim porque hoje, decidi dedicar minhas ações, pensamentos e desejo para que, enquanto eu viver (sabe-se lá quando vou morrer), viver por e de amor. Quero viver escolhendo me relacionar intensamente e amar até o final.
Quero, hoje, escolher aceitar a vida como ela é e está, porque a cada pessoa cabe as alegrias e as tristezas que chegam. E eu sei que o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraída amando e sendo amada...
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